quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O ritimo da Discordia....



Os mais puristas dispensam os fones. Acreditam que estar ligado ao que acontece ao redor é uma parte essencial da corrida. Mas o fato é que, a cada dia, aumenta o número de corredores que não imaginam dar um passo sequer sem o impulso de suas músicas prediletas. Em 2007, a Federação Norte-Americana de Atletismo proibiu o uso de aparelhos de som portáteis em seus eventos, chegando a retirar da pista 144 corredores na Maratona Twin Cities (de Minneapolis a Saint Paul) daquele ano. Depois, a medida foi suavizada – passando a valer apenas para atletas de ponta –, mas a discórdia entre fãs e detratores dos fones de ouvido continua. Entre seus defensores está o inglês Costas Karageorghis, psicólogo do esporte que estudou a influência positiva da música sobre atletas. Do lado oposto está o canadense Jim Denison, sociólogo do esporte e treinador. Ele acredita que o melhor mesmo é correr ao som dos seus próprios passos. Conheça agora os argumentos desses dois especialistas: os "prós" são de Karageorghis e os "contras", de Denison.

Qual é a questão central em torno de correr ouvindo música?

PRÓ

Às vezes, a música pode fazer com que correr pareça mais fácil. Estudos demonstram que ela reduz a percepção de intensidade do exercício em cerca de 10%. Um estímulo externo como esse é capaz de literalmente bloquear alguns dos estímulos internos que tentam chegar ao cérebro, como mensagens sobre fadiga enviadas por músculos e órgãos. Quando essas mensagens são bloqueadas, a percepção de esforço do corredor é reduzida e você tem a sensação de que pode correr mais rápido e por mais tempo. Isso não ocorre em níveis altos de esforço — nesse caso, o cérebro muda sua atenção dos estímulos externos para os internos. A música também eleva aspectos positivos do humor, como entusiasmo e felicidade, enquanto reduz aspectos negativos, como tensão, cansaço e confusão. Por isso, ela pode ajudar no desempenho, já que trabalha na questão emocional do corredor.

CONTRA

Um problema importante é o fato de que ouvir música o distancia dos outros sons produzidos pelo ato de correr, como a respiração e o impacto das passadas, que são informações preciosas. Eles lhe dão um retorno sobre seu esforço. Correr ouvindo música também afasta a pessoa do ambiente em que ela está, o que pode ser perigoso. Você pode não ouvir um carro ou uma pessoa atrás de você, ou uma tempestade que se aproxima. No caso das provas, isso o isola dos outros corredores e impede que você ouça as instruções dadas pelos organizadores. Você andaria de carro ou de bicicleta com fones de ouvido? Provavelmente não — ou não deveria —, porque isso reduz sua atenção e aumenta seu tempo de reação. Eu quero que esses aspectos trabalhem a meu favor. Além de tudo, acredito que corredores podem se tornar dependentes de música. Pode-se chegar a um ponto em que você perde a noção daquilo que é realmente motivador para você, como a sensação de energização provocada pela corrida.

Alguns corredores precisam de música mais que outros?

PRÓ

Sim. Na verdade, a música não é eficaz para indivíduos que podemos definir como "associadores". Atletas que levam o esporte a sério tendem a ser associadores, o que significa que eles se concentram intencionalmente nas informações internas, como respiração, batimentos cardíacos e tensão muscular. Esse tipo de atleta tende a não obter tantos benefícios de estímulos externos como a música. Por outro lado, há os “dissociadores”, a categoria na qual a maioria dos corredores — fisicamente ativos, mas longe de serem atletas de ponta — se encaixam. Para essas pessoas, a música pode ser uma força motivacional. Os dissociadores buscam esse tipo de fator para distraí-los do tédio normalmente associado ao exercício físico.

CONTRA

Corredores de elite podem ter maior tendência a não precisar de auxílio externo para lidar com a suposta monotonia da corrida. Mas eu não acho que todo mundo entenda o ato de correr como um meio para se chegar a um fim. Não deveríamos partir do princípio de que as pessoas acham que correr é chato e precisam de música para suportar a atividade. Muitas pessoas gostam de correr e de estar presentes na sensação de movimento. Você não precisa ser um atleta de elite para estar em sintonia com seu corpo.

Há quem diga que correr refresca a mente. Como a música afeta isso?

PRÓ

No "estado de fluxo", que se caracteriza por uma imersão completa no que se está fazendo, o tempo parece parar. Você sente prazer naquilo que está fazendo, centrado em si mesmo. Porém, há pesquisas mostrando que a música pode ajudar a aprimorar esse estado durante a corrida. Assim, ela pode se tornar parte dessa experiência holística e não algo separado (ou ainda em detrimento dela).

CONTRA

A capacidade de estar calmo, em paz, se perdeu em nossa cultura; abrimos mão disso para fazermos várias coisas ao mesmo tempo — a chamada multitarefa. Eu diria que ouvir música – ou podcasts, ou audiobooks – durante a corrida é uma forma de multitarefa. É o que nos mantém “plugados” e impede que a experiência de correr seja realmente apreciada.

Quando se corre em uma esteira, música é uma necessidade?

PRÓ

Ouvir música na esteira é provavelmente melhor que fazê-lo ao ar livre. Afinal, não há perigos em relação ao tráfego. A corrida em ambientes abertos traz naturalmente elementos de distração, por causa da paisagem, e esses estímulos podem aliviar o tédio. Na esteira, você não tem esses estímulos, ou os tem em menos quantidade, o que torna a música bastante útil. Quanto menos se percebe o esforço, menor o tédio.

CONTRA

Discordo. Quando você corre com seu MP3 em uma esteira, você não consegue ouvir suas passadas ou sua respiração e, por consequência, não está aprendendo a associar essas informações com seu nível de esforço. Você fica desconectado da corrida. Por que correr na esteira deveria ser diferente de correr ao ar livre? A mesma conexão positiva com o próprio corpo pode ocorrer em qualquer contexto e, na minha opinião, isso é sempre melhor do que a interferência da música nas sensações de correr e de se movimentar. Observo atletas o tempo todo, correndo na esteira e ao ar livre. Independentemente de onde estão, sempre percebo que, quando ouvem música, eles se tornam quase robóticos. Eles ligam o som simplesmente para encarar o treino. Se você observar pessoas correndo sem música, verá que a abordagem é bastante diferente — elas têm mais foco.

O que você acha de corridas que tocam música durante o percurso?

PRÓ

Algumas das nossas pesquisas mais recentes estudaram o efeito de usar música em pontos predeterminados em vez de executá-la ao longo de todo um trajeto. Esse parece ser o modo mais eficiente de se utilizar a música, o que me leva a acreditar que ter música em pontos específicos ao longo de uma prova pode ter efeito positivo.

CONTRA

Acho que a música durante as corridas pode ser um tiro pela culatra se ela o tirar de seu ritmo, fazendo com que você acelere em uma subida porque está passando por uma banda. Não é eficiente gerenciar uma corrida de modo tão desigual e, mais tarde, você vai pagar o preço. Para me prevenir contra isso, eu usaria um cronômetro e verificaria o mapa do percurso com antecedência. Isso ajuda a saber qual deve ser seu ritmo na competição. O mais importante é estar consciente de que a música pode afetá-lo de forma negativa e estar determinado a não deixar que isso aconteça.

Como os corredores podem usar a música a seu favor?

PRÓ

Os benefícios da música tendem a se manifestar em corridas de intensidades leves e moderadas. Eu diria que é melhor contar com ela em seus dias de treino mais fácil. Também estamos investigando a aplicação sincrônica da música, ou seja, fazer com que o atleta conscientemente associe seu ritmo de passadas ao ritmo da música, o que pode resultar em um uso mais eficiente do oxigênio durante a corrida. Para realizar a corrida sincrônica, você deve descobrir o ritmo de passadas que você deseja fazer (o número de vezes que seus pés tocam o chão por minuto) e então pesquisar músicas cujas batidas por minuto (bpm) estão levemente acima desse número — uma ou duas batidas por minuto a mais já são suficientes. Além disso, constatamos que o método mais eficaz consiste em dois treinos com música e um sem. Se você ouvir música em todos os treinos, você pode perder a sensibilidade, ou ficar dependente dela em competições.

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os tão desejados 10 km


Passar dos 5 km para os 10 km exige mais treino e dedicação, mas não é um esforço de outro mundo. Veja as dicas dos treinadores e planilha de 12 semanas para encarar a distância preferida dos brasileiros sem sustos

Evoluir dos 5 km para os 10 km é o desejo de um grande número de corredores. Porém, muitos não sabem como fazer a mudança de uma distância para outra. A dica é não ter pressa, mas respeitar as adaptações do seu organismo. Para dobrar a distância do seu percurso, basta estabelecer metas, traçar um objetivo e intensificar seus treinamentos. Assim os tão sonhados 10 km serão conquistados com satisfação e sem crise.

Uma das principais dificuldades dessa transição está na adaptação do corpo quanto ao aumento do volume. A evolução fisiológica do indivíduo, considerando sua adaptação às novas cargas, são sempre uma incógnita para cada pessoa, sendo assim, esta evolução no volume de treino deve ser feita com cuidado, pois pode gerar contusões e frustrações no atleta. O aumento na distância gera uma modificação natural na técnica de movimento. A ação fisiológica do novo desafio leva a exigência de uma adaptação muscular, por conta do tempo de execução e é pensando nessas diferenças que são construídos os treinamentos.

Portanto, os treinamentos devem evoluir também. Para atingir uma maior distância, é preciso treinar mais dias na semana, aumentar o volume e reforçar os músculos. O volume semanal do treinamento deve subir em pelo menos 10%, fazendo isso gradativamente a cada semana. Com o aumento da distância, será necessário estar mais resistente, pois inicialmente haverá dificuldade em manter o mesmo ritmo min/km nos 10 km. Portanto, deve-se avaliar bem o tipo de percurso de 10 km que o atleta irá correr.

Está chegando a hora!

A preparação para evoluir dos 5 km para os 10 km deve ser feita com planejamento e antecedência. O ideal é intensificar os treinos bem antes da competição, levando em conta o condicionamento do atleta, pois cada pessoa tem um metabolismo diferente. Normalmente, realizando treinos de três a quatro vezes por semana, o corredor tem capacidade de evoluir de 5 para 10 km em um tempo de aproximadamente de 3 meses. Mas esse número é muito generalista e é muito comum também termos programações de quatro a seis meses.

Dicas

Confira as dicas que os treinadores dão aos corredores que querem passar para a distância preferida dos brasileiros:

* Não tenha pressa - Para conquistar os 10 km e atingir o objetivo, é preciso preparação, tanto física, como psicológica. Fique tranquilo, as mudanças geram um pouco de nervosismo, mas é só encarar o desafio sem ansiedade.

* Respeite seu treino - Não exagere, nem faça mais do que é proposto a você. Respeite seu corpo e as adaptações do organismo. Caso haja qualquer desgaste excessivo, comunique seu treinador ou passe a dedicar mais tempo ao descanso.

* Aumente a qualidade - Melhorar os tiros de resistência, os treinos ritmados e os exercícios educativos são uma ótima pedida. Outra dica é treinar variações em subidas e fazer um bom reforço muscular. E não se esqueça da alimentação, nessa mudança a ansiedade pode fazer sua dieta sair do convencional, fique esperto.