quarta-feira, 28 de julho de 2010

Afinal, que meia é essa ?



Meia elástica sempre foi coisa de mulher grávida. Ou então de gente que trabalhava em pé durante muito tempo. De uns anos para cá, usadas como auxílio ergogênico para aumentar o desempenho esportivo de atletas, elas passaram a ser vistas também nos campos de futebol, nas quadras de basquete, em triatletas, ciclistas e até em campos de golfe. Entre corredores a “garota-propaganda” é Paula Radcliffe, a melhor maratonista do mundo.

Atual recordista mundial de maratona (2:15:25, Londres 2003), Paula começou a usá-las na temporada 2000. Da cor da pele e do tipo três quartos (vão até abaixo do joelho), as meias esportivas de compressão passaram a fazer parte do visual da campeã. Segundo seu próprio depoimento, ao usar as meias durante a fase de testes, ela percebeu uma grande diferença após as corridas mais exaustivas, tanto nas pistas como nas ruas. Suas panturrilhas ficavam menos propensas ao enrijecimento e a recuperação era mais rápida. "As meias de compressão ajudam meu sistema linfático a drenar o ácido lático do sangue e das pernas", disse em entrevista à CNN/Sports Illustrated, em agosto de 2001.

Fisiologia das corridas. Antes de começar a falar a respeito das meias de compressão, é interessante refrescar um pouco a memória com relação ao trabalho de um ponto do corpo humano diretamente envolvido na corrida: a panturrilha.

O coração é o responsável primário pelo bombeamento do sangue, que logo a seguir será distribuído por todo o corpo pelo sistema arterial. Cabe ao sistema venoso, cuja principal estrutura são as veias, captar e trazer o sangue de volta ao coração. Depois de oxigenado nos pulmões, um novo ciclo irá se repetir. As veias, por sua vez, possuem válvulas direcionais. São essas válvulas que orientam o fluxo sangüíneo para cima, já que pela ação da gravidade a tendência normal do sangue seria acumular-se em baixo.

A cada passada, ao se contrair e relaxar, os músculos da panturrilha atuam pressionando as veias, ajudando a forçar a subida do sangue de volta ao coração. Na prática e em termos simples, operando em conjunto com outras partes do corpo, a panturrilha funciona como uma espécie de bomba secundária de recalque do sangue venoso. É isso.

A ação das meias de compressão. Como peça do vestuário, a função primordial das meias é proteger. Mas meias de compressão não se satisfazem com tarefa tão banal. Vão além. Fazem algo mais. Ao mesmo tempo em que comprimem, elas atuam massageando os músculos. A combinação dessas duas ações com outras faz com que a bomba venosa muscular da panturrilha opere de forma mais eficiente. Assim, além de estimular a volta do sangue ao coração, as meias de compressão trabalham aumentando efetivamente o volume desse retorno.

O uso por pessoas saudáveis. Embora existam aplicações com algodão, na sua maioria as meias de compressão são produzidas a partir de fibras sintéticas de poliamida e elastano. Instalada em Jundiaí, próximo à capital paulista, a multinacional suíça Sigvaris produz meias cujas classes variam de acordo com as faixas de compressão. Na classe I a variação vai de 15 a 20 mmHg (milímetros de coluna de mercúrio), chegando na última classe a valores entre 40 e 50 mmHg, isto somente no modelo com tornozeleira. Para efeito comparativo vale lembrar que a pressão arterial sangüínea humana normal é ao redor de 120 x 80 mmHg.

Confeccionados em série e de forma padronizada, os modelos três quartos podem ser encontrados no mercado nos tamanhos P, M, G e GG, disponíveis nos comprimentos curto, normal e longo. Embora varie de produto para produto, seguidas todas as recomendações de uso e conservação, as meias medicinais tem sua compressão garantida por quatro ou seis meses. De acordo com a Sigvaris, atualmente ainda não é possível produzir uma meia de compressão "sob medida" (aplicação individualizada) a preço acessível. Mesmo não dispondo de estudos que comprovem a melhora hemodinâmica em usuários sadios, a Sigvaris entende que para tais indivíduos o uso será vantajoso principalmente em relação ao aumento da fração de ejeção.

Meias de compressão para uso esportivo. O esporte é, em si, benéfico para o retorno venoso. Mas isso só acontece sob certas condições, que raramente são encontradas na prática rotineira. Por exemplo, o tipo de esporte, sua duração, o nível de condicionamento físico do atleta, a falta de treinamento e a insuficiência de repouso podem interferir na situação venosa a ponto de provocar tanto lesões como queda de rendimento.

Durante a contração muscular forte e rítmica, o sistema venoso profundo se beneficia da compressão que sofre por parte da musculatura, o mesmo não acontecendo com as veias superficiais, que carecem de tal apoio. "Como a pele é um elemento pouco resistente, atuando como um anteparo, as meias cumprem perfeitamente essa função, protegendo e impedindo a dilatação das veias quando há o aumento substancial do volume sangüíneo durante a prática desse tipo de atividade física.



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